sexta-feira, 4 de abril de 2014

DÍZIMO, MINHA OFERTA DE GRATIDÃO AO SENHOR

Leia o Capitulo 7 de Hebreus

O dizimo é a decima parte (10%) de tudo que se recebe: fruto da terra, procriação dos animais, doações, heranças e valores nas mais variadas formas.
Para que você compreenda o dízimo de forma que não se contamine com as teorias diabólicas que atacam a igreja, entenda que o dízimo e uma OFERTA DE GRATIDÃO À DEUS.

A primeira menção clara sobre dizimo foi a de Abraão dando dízimos ao Sacerdote de Salem (futura Jerusalém) Melquisedeque (Gênesis 14:18-20), o que aponta para nosso dever de gratos também na nova aliança com dízimos, visto que Cristo é Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque e nós somos sacerdócio real de Cristo (Apocalipse 1:6).

Antes dessa passagem vemos OFERTAS DE GRATIDÃO que apontavam para o dizimo, onde a primeira mencionada foram as de Cain e Abel (Gênesis 4:3-4). Essas ofertas eram feitas em gratidão a Deus pela prosperidade da terra e dos animais de criação.

Na bíblia também vemos sacrifícios de obediência, tau como quando Abraão foi ao monte para sacrificar seu filho em obediência a Deus (Gênesis 22:2), no entanto, esse tipo de sacrifício não é da natureza de Deus, sabendo isso, Abraão obedeceu com a fé de que Deus iria prover uma situação que lhe tiraria de uma situação que confrontava a natureza de Deus (Gênesis 22:8; 11-13).

Sendo assim, podemos dividir os sacríficos em três categorias:
1.       Sacrifícios de obediência – onde você cumpre uma ordenança do Senhor Soberano;

2.       Sacrifícios expiatórios – Derramamento de sangue para remissão de pecados (já foi totalmente cumprido em Cristo, não sendo mais necessário aos homens praticarem);

3.       Sacrifícios de gratidão – Ofertas de gratidão a Deus pelos seus feitos e justiça.

Com a lei de Moises veio os sacrifícios expiatórios com base na pascoa que acabava de acontecer antes da saída do Egito (Êxodo 12:27), que não tinha nada a ver com dízimos, mas sim com derramamento de sangue para expiação de pecados (Êxodo 29:20-21).
Embora Moises seja o intermediador da lei de Deus, ele era um líder governamental que passou a liderar sua nação de origem, existindo assim uma diferença entre lei de Moises e lei de Deus:

1ª A lei de Deus está contida na lei de Moises, mas na lei de Moises haviam normas que o mesmo aprendeu com sua educação egípcia, sendo que o mesmo as adornava com base nos ensinamentos recebidos de sua mãe na infância (Êxodo 2.9), o que chamamos de preceitos civis da lei(Hebreus 10:1-14);

2ª A lei de Moisés era para o povo Judeu, a lei de Deus é para humanidade (Isaias 24:5; Salmo 119:44, 142).

3ª A lei de Moisés apontava para o sacrifício de Cristo, sendo abolida com o total cumprimento dela por ele no sacrifício da cruz, nos tornado agora despenseiros da graça por ele revelada (I Coríntios 4:1; I Pedro 4:10);

4ª A lei de Deus é moral, a de Moisés é civil e cerimonial;

5ª O dízimo na lei de Moisés era para os judeus e sustento da tribo de Levi, já o dízimo (oferta de gratidão) no novo testamento é para sustento da Igreja em forma de sacerdócio real de Cristo na ordem de Melquisedeque (Malaquias 3:10; Hebreus 7:6-9; 2 Coríntios 9:7; Lucas 10:7; 2ª Coríntios 11:7-9; 1 Timóteo 5:17-18).

Quando vemos a evolução de sacrifícios por pecados e dízimos, vemos que um era diferente do outro.

O sacrifício por pecados veio na dispensação da lei (Hebreus 5:1-10; 2ª Reis 12:16; Êxodo 30:10).

Já as ofertas de gratidão, vem desde Adão e Eva com seus filhos (Gênesis 4:3-4), tomando forma de dizimo com a dispensação patriarcal (Gênesis 14:18-20; 28:22).

Jesus foi o sacrifício perfeito, abolindo assim a nossa obrigação de apresentarmos sacrifícios pelos nossos pecados, no entanto continuamos necessitados de sermos gratos a Deus por tudo que ele nos faz, daí entra o dízimo (oferta de gratidão) que não era um ato criado na lei, mas um ato praticado desde os primórdios da humanidade (Capitulo 10 de Hebreus; 1ª Pedro 2:5).

O dízimo da lei era para os Judeus, pois era cheio de rituais e leis para entrega correta (Levítico 27:32; Números 18:28; Deuteronômio 12:6,11).

O dizimo da ordem de Melquisedeque acompanha o sacerdócio real de Cristo, representado hoje pela igreja (1ª Pedro 2:9-10; Apocalipse 1:6; 5:10).

Assim como os Levitas eram os únicos autorizados a receber dízimos na dispensação da lei, aqueles que representam a igreja na terra são autorizados a receberem na graça (João 13:29; Lucas 10:7; 2ª Coríntios 11:8; 1ª Timóteo 5:17-18; Atos 5:1-10; 4:34,37; 2ª Coríntios 9:7).

Diferença entre Dízimo, Oferta Alçada, Oferta de Amor e Esmola

Dizimo é uma oferta de gratidão de 10% de tudo que recebemos de Deus entregue em sua Congregação.

Oferta Alçada é um valor levantado e entregue por voluntariedade e amor em sua Congregação (Êxodo 25:1-2).

Oferta de Amor é um valor indefinido ou objeto que doamos para ajudar o próximo, um grupo ou uma instituição em algum projeto ou necessidade.

Esmola é uma pequena ajuda voluntaria de valores ou alimentos entregue a um necessitado.

Dízimo e Oferta Alçada são atos de devoção e gratidão públicos (assim como sua confissão de fé) entregues exclusivamente na casa do tesouro e administrados pelos líderes da Congregação que você faz parte, é parte inerente de seu relacionamento com Deus e a Igreja. Seu uso dar-se conforme as prioridades abaixo:

  •       I.           Sustento dos obreiros missionários;
  •      II.           Pagamentos de despesas de água, luz e comunicação;
  •     III.           Pagamento de despesas administrativas;
  •     IV.          Pagamento de despesas com prestação de serviços;
  •      V.          Manutenção da estrutura física do templo e de seu patrimônio;
  •     VI.          Manutenção de departamentos;
  •    VII.         Evangelização e expansão da igreja;
  •   VIII.         Instrução dos fiéis;
  •     IX.          Ajuda social aos irmãos necessitados da igreja;
  •      X.          Doações.

Já as ofertas de amor e esmolas tratam de seu relacionamento com o próximo, são entregues diretamente aqueles a quem Deus lhe tocar que entregue, não devem ser expostas, ou seja, quem as pratica não deve sair tocando trombeta (Mateus 6:1-3).


Dúvidas Acerca do Dízimo e Oferta

1.       Quando devo dar o meu dizimo?
O dizimo é primazia das bênçãos concedidas, ou seja, devemos entrega-lo assim que recebemos a benção (salario, benefício ou bens financeiros).
Acumular dízimos é um perigo para o crente, pois ele estará sujeito as circunstâncias da vida e astucia diabólica que poderão consumir o que ele reservou para devolver a Deus. Lembre-se, o dízimo é um ato de desprendimento material que lhe posiciona como alguém que acredita em Deus e tem fé que tudo que recebeu provem dele.

2.       De que parte do meu ordenado devo entregar os dízimos, do bruto ou do liquido?
Para não correr risco de ser tentado numa eventual dispensa do trabalho de você não dizimar das contas (valor alto), o ideal é você dizimas do bruto.

3.       Tenho empréstimos descontados em folha, o que me faz receber apenas uma parte do meu salário, devo dar o dizimo do liquido ou do bruto nesse caso?
Se você deu o dizimo do empréstimo que fez, a parcela que você paga ao banco já está dizimada, daí você subtrai a parcela do empréstimo do salário bruto e entrega do dízimo do resultado, mas se você não dizimou do empréstimo, terá que dizimar do bruto sem subtrações.

4.       Já fui dizimista fiel, mas eu não vinha dando meu dizimo a algum tempo, devo dar os dízimos que não dei?
Você não é obrigado a dar dízimos de tempos anteriores, pois o dízimo é uma oferta de gratidão pelo que Deus fez na época, só que você não foi grato naquele tempo, portanto, o fato de você dar atrasado não vai lhe isentar da culpa da ingratidão, mas sim se você se arrepender e passar a fazer certo agora. No entanto se você tiver condições e se sentir tocado a dar mais do que o dízimo como forma de arrependimento, não estará pecando e Deus julgara as intenções de seu coração.

5.       Posso entregar meu dízimo em outras igrejas que vejo que estão necessitadas?
O dízimo não é uma oferta de caridade, é um ato de fé e gratidão a Deus, é um ato inerente ao seu relacionamento com Deus e sua Congregação, a bíblia nos orienta a entregarmos os dízimos em nossa congregação. Caso você queira ajudar uma igreja necessitada, você poderá dar uma oferta de amor naquele lugar.

6.       Posso usar meu dízimo para ajudar os pobres e necessitados?
O dízimo é de administração da ordem sacerdotal de sua congregação, ou seja, o pastor e o ministério é quem administram para onde serão investidos os recursos de acordo com as despesas, obrigações e necessidades da igreja e seus membros. Administrar seu dízimo é como se você recebesse um dinheiro de alguém para entrega-lo a outra pessoa e você no meio do caminho usa-o em seu benefício ou de terceiros, ou seja, o uso do que não é seu é roubo (Malaquias 3.8-10).
Se você identifica alguém em situação difícil e quer ajudá-la, você poderá dar uma esmola ou uma oferta de amor a essa pessoa, mas se você não tiver condições, pode se unir com outros irmãos e amigos para este fim ou procurar seu pastor para ver a possibilidade da igreja ajudar, mas nunca use seu dízimo para este fim pois você estará fazendo o que parece certo, mas da forma errada.

7.       Devo dar dízimo da venda de carros ou imóveis?
Neste caso, só do lucro da operação.
Ex: Como dizimista fíél, você comprou uma casa por R$10.000,00 e depois de algum tempo vendeu a mesma por R$25.000,00, você dará o dizimo só dos R$15.000,00 de lucro, pois os outros R$10.000,00 já haviam sido dizimados. Agora, se você ganhou uma casa e não teve custos e depois vende, você lucrou o valor total, portanto deverá dizimar tudo.
O mesmo raciocínio se aplica a venda de carros e de qualquer outra coisa.

8.       Sou comerciante, como devo proceder com meu dízimo?
Você só irá dar o dízimo de seu lucro real, subtrairá as despesas gerais da receita bruta, o resultado é seu lucro, daí você entregará seu dízimo.
Procure entregar seu dízimo de acordo com o fechamento dos caixas, ou seja, separe o dízimo diariamente e entregue-o no primeiro culto que for, pois o acumulo de valores pode tenta-lo ao gasto e Satanás pode criar situações para que você gaste o que não é seu.

9.       Meu marido é ímpio, ele ganha dinheiro desonestamente, sempre ele me dá um pouco, devo dar o dízimo do dinheiro de origem ilícita?
Se você tem consciência que o dinheiro é de origem ilícita, você nem deve receber, quanto mais dar o dízimo, é uma abominação a Deus, mas se você não sabe da situação ou origem do dinheiro e dá o dizimo, não se preocupe, pois Deus não irá lhe condenar por ignorância de algum assunto. (Deuteronômio 23:18)

10.    Devo declarar meu dizimo ou não?
Para responder essa questão devemos considerar alguns pontos:
         I.            Ao contrário do que pregam alguns, o dízimo era declarado sim no antigo e novo testamento, em todas as passagens que falam do assunto ele era declarado por se tratar de ato de fé e gratidão e não de uma doação;
        II.            Não podemos confundir dízimo e esmola, quando Jesus disse que o que a tua mão direta faça, não seja visto pela esquerda, ele estava falado de esmola, não de dizimo;
      III.            Todos os dízimos dos Judeus eram declarados, Jesus e os apóstolos viram tanto a oferta da viúva quanto o dízimo do fariseu, ele não ignorou o fato dele ter declarado, mas sim sua hipocrisia em dar das sobras e exaltou a viúva por ter dado tudo. Alguns “contra-igreja” alegam que Jesus sabia dos valores pela sua onisciência, mas ele pergunta aos discípulos quem deu mais, só que nós sabemos que eles não eram oniscientes, o ato de onisciência de Jesus se aplica em saber que o fariseu deu das sobras e a viúva deu de tudo que tinha, só isso;
      IV.            O dízimo de Abraão à Melquisedeque foi declarado (dizimou dos despojos, ou seja, todos sabiam quanto de despojos estava em jogo);
       V.            De acordo com o estatuto da IEADERN, os membros são orientados à declarar o dízimo, já aos obreiros é obrigatório. Lembre-se, mesmo que o estatuto lhe oriente a ser dizimista, de qualquer forma você já assumiu esse compromisso diante de Deus no momento que aceita a Jesus e seus mandamentos, na sua profissão de fé antes do batismo e no caso dos obreiros, todas as vezes que foi separado para alguma ordenação (auxiliar, diácono, presbítero, evangelista ou pastor). Não entregar seus dízimos lhe deixa na condição de infiel e descumpridor das suas promessas.
      VI.            A declaração isenta o crente de possíveis falsos testemunhos contra sua pessoa, estimula-o em seu dever, pois o mesmo terá um histórico para glorificar a Deus, servirá de prova se satanás o acusar de hipócrita nos assuntos relativos a dízimo, ajudará a gestão da igreja a se programar na manutenção da obra, aplicação de investimentos, ajudas missionários, serviço social, sustento de obreiros, aquisição de bens para igreja, elaboração de projetos a longo prazo e etc.
Portanto meu amado(a), o dízimo é um dever de todo Cristão, sua declaração é uma prova de fé e gratidão e não hipocrisia, não confundamos declarar o dízimo a gestão da igreja com tocar trombeta para se gloriar. Mateus 6:1-3


Por Pb. Gilmar Sousa

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A Soberania de Deus e o Livre-arbítrio do Homem



Esse tópico trata do relacionamento de Deus com o homem, feito à sua imagem, conforme a sua semelhança. Nesta condição é indispensável e forçoso que o homem tenha liberdade para agir ou deixar de agir; fazer ou deixar de fazer; pensar ou deixar de pensar; ser ou não ser; ter ou não ter, dentro de suas limitações espirituais, emocionais ou físicas. Como entender a soberania de Deus que é a expressão de sua onipotência ante as ações do homem que em sua grande maioria rejeita o Criador e Salvador? Pode o homem ser realmente livre, diante do Deus onipotente? Se Deus é soberano, por que Ele não impede que o homem, em seu estado pecaminoso, cometa tantos desatinos e pecados? É o que desejamos apresentar, à guisa de respostas, com fundamento na Palavra de Deus.  

1. A VONTADE SOBERANA DE DEUS
A vontade de Deus é soberana. No entanto, Ele não é arbitrário. Em seu relacionamento com o homem, apresenta duas formas de expressar sua vontade. Uma de modo absoluto, diretivo, inexorável, como expressão de sua onipotência; outra, de modo permissivo, abrindo espaço para o homem agir, segundo a liberdade que lhe é concedida desde a criação, para que o mesmo seja, ao mesmo tempo, livre, responsável e responsabilizado por suas ações. 
Diz Paulo: “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito do Espírito ceifará a vida eterna. E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido” (Gl 6.7-9). Parece-nos bem claro que o homem tem liberdade para “semear”, ou seja, agir, fazer ou praticar algo, seja certo, ou errado. Assim, pode ser santo ou ímpio. O apóstolo deixa bem patente que o que semear “na carne”, ou seja, de acordo com a natureza carnal, herdada do pecado original, “ceifará corrupção”, isto é, a condenação. Não será salvo. Não porque Deus o predestinou, de modo arbitrário. Mas porque ele semeou. 
Por outro lado, se o homem semear “no Espírito”, ou seja, der valor ao relacionamento espiritual com Deus, “ceifará a vida eterna”. Será salvo (Jo 3.16; 5.24). No Apocalipse, lemos: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo” (Ap 3.20; grifo meu). Deus sempre permite um “se”, no seu relacionamento com o homem. Se ele quer viver com Deus, na dimensão terrena, viverá com Deus, na eternidade. Do contrário, se não quer saber de Deus, viverá eternamente longe de sua presença. É uma escolha pessoal. Um direito. E uma grande responsabilidade, com repercussões para toda a eternidade. 

1) Vontade Permissiva de Deus
Por que Deus não impede que o homem faça o mal? Por que Deus permite tanta violência? Quando alguém faz o bem, mesmo sem crer em Deus, está sendo teleguiado por Ele? Seriam os homens “fantoches de Deus”, como diz certo escritor? Está em foco o livre-arbítrio concedido por Deus ao homem, para que este faça o que desejar e puder fazê-lo até mesmo o mal. Deus pode impedir o mal. Porém, pela suavontade permissiva, faculta ao homem escolher entre o bem e o mal. Se não houvesse permissão para o mal, não haveria também liberdade concedida. Seria uma contradição. 

2) A Vontade Diretiva de Deus
Quando algo é visto por Deus como uma coisa que deve ser impedida e o deseja impedir, Ele usa sua vontade diretiva: “Ainda antes que houvesse dia, eu sou; e ninguém há que possa fazer escapar das minhas mãos; operando eu, quem impedirá?” (Is 43.13) “E ao anjo da igreja que está em Filadélfia escreve: Isto diz o que é santo, o que é verdadeiro, o que tem a chave de Davi, o que abre, e ninguém fecha, e fecha, e ninguém abre” (Ap 3.7). 
Há quem se inquiete, e indague: Por que Deus não evita o mal se Ele tem todo o poder? Diante desse dilema, entre a permissão de Deus para a existência do mal, e seu poder para evitá-lo, deve-se considerar que a longanimidade de Deus é a paciência para com os pecadores, dando-lhes oportunidade para o arrependimento. Isso faz parte de sua relação com suas criaturas. Em sua soberania, Ele pode alargar o tempo para que a humanidade tome conhecimento do seu amor, e não só de sua justiça. Não obstante a sua soberania, Ele não age de modo arbitrário sobre os homens, criados à sua imagem, conforme a sua semelhança, para serem dominadores (Gn 1.26). 

IV - A SOBERANIA E OS DECRETOS DE DEUS
São também chamados de “O Conselho de Deus”, ou “o Plano de Deus”; ou ainda, “As Obras de Deus”. Refere-se aos propósitos de Deus em relação aos homens, ao universo, e a todas as coisas, e de modo especial, à salvação da humanidade. “Este aspecto pode ser dividido em 1) seus decretos 2) sua providência 3) conservação”.7Neste tópico, não estudamos a natureza de Deus, em si, mas as suas obras, as suas ações, que constituem os seu plano divino (Ef 1.9; 3.11). 

1.EM RELAÇÃO AO UNIVERSO
Segundo Brancroft: 
Esse plano compreende todas as coisas que já foram ou serão; suas causas, condições, sucessões e relações, e determina sua realização certa. O Plano de Deus inclui tanto o aspecto eficaz como o aspecto permissivo da vontade de Deus. Todas as coisas estão incluídas no plano de Deus, porém algumas Ele as origina e outras Ele as permite. No aspecto eficaz do plano de Deus incluímos aqueles acontecimentos que Ele resolveu efetuar por meio de causas secundárias ou pela sua própria agência imediata. No aspecto permissivo de Deus, incluímos aqueles acontecimentos que Ele resolveu permitir que fossem efetuados por livres agentes.8 
Nessa conceituação, vemos a vontade diretiva (ou decretatória), e a vontade permissiva de Deus.
Concordamos perfeitamente quanto ao decreto divino, em seus aspectos amplo e geral, em relação ao universo e às coisas criadas, bem como aos acontecimentos que ocorrem, seja por vontade diretiva, seja por vontade permissiva de Deus. A Bíblia tem inúmeras referências que corroboram esse entendimento: “Este é o conselho que foi determinado sobre toda esta terra; e esta é a mão que está estendida sobre todas as nações. Porque o Senhor dos Exércitos o determinou; quem pois o invalidará? E a sua mão estendida está; quem, pois, a fará voltar atrás?” (Is 14.26,27) “Para sempre, ó Senhor, a tua palavra permanece no céu. A tua fidelidade estende-se de geração a geração; tu firmaste a terra, e firme permanece. Conforme o que ordenaste, tudo se mantém até hoje; porque todas as coisas te obedecem” (Sl 119.89-91). 

2. EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS, COMO AGENTES-LIVRES 
Neste aspecto, desde muitos séculos, há grandes discussões teológicas sobre a intervenção de Deus na vontade do homem, segundo seu decreto, sobretudo no que tange à salvação. De um lado, há os que crêem firmemente que Deus, em sua soberania, elegeu e predestinou algumas pessoas para serem salvas, e outras, para serem condenadas. Dentre os ensinos teológicos sobre os decretos de Deus em relação aos homens, destacamos os seguintes:

2.1. CALVINISMO - PREDESTINAÇÃO ABSOLUTA
É a doutrina formulada por João Calvino (1509-1564). Teólogo protestante francês, formou-se em filosofia na Universidade de Paris. Estudou direito, mas não se dedicou à vida jurídica. Mudou-se para a Suíça, onde escreveu sua grande obra, Institutas. Sua doutrina defende a idéia da predestinação absoluta, fundamentada na soberania de Deus. O homem nada pode fazer para ser salvo; nem mesmo ter fé, pois nessa interpretação, a fé, a vontade, a decisão, e tudo o que diz respeito à salvação, depende de Deus. Pode ser resumida em cinco pontos: 

(1) Total depravação. “O homem natural não tem condição de entender as coisas de Deus; Jamais poderá salvar-se, a menos que Deus lhe infunda a fé. Sua depravação faz parte de sua natureza (Jr 13.23; Rm 3.10-12; 1 Co 2.14; Ef 1.3);”
Segundo essa doutrina, nem a fé para a salvação pode o homem ter; é necessário que Deus lhe conceda. 

(2) Eleição incondicional. Ensina que “Deus elegeu somente alguns para serem salvos; Cristo morreu apenas pelos eleitos” (Jo 6.65; At 13.48; Rm 8.29; Ef 1.4,5; 1 Pe 2.8,9); 
Esse é um ponto fundamental da doutrina esposada por Calvino. Aceitá-la é concordar que Deus faz discriminação, ou acepção de pessoas; mais crucial ainda é aceitar que Deus elege pessoas para serem salvas, desde o ventre; enquanto predestina a maior parte, irremediavelmente, para a condenação eterna; tais assertivas, não obstante arrimarem-se em referências bíblicas, contrariam o sentido geral da Palavra de Deus, bem como contradizem de forma contundente o caráter de Deus revelado nas Escrituras.

(3) Expiação limitada (ou particular). “A salvação, ainda que para todos só é alcançada pelos eleitos” (Jo 17.6,9,10; At 20.28; Ef 5.25; Tt 3.5). 
Se a eleição condicional colide com a idéia de um Deus justo, que não faz acepção de pessoas, a idéia da expiação limitada faz do sacrifício de Cristo uma encenação terrível. Se alguns já nascem, de antemão eleitos, certamente, a Bíblia deveria afirmar que Jesus viera ao mundo para salvar apenas os eleitos. 

(4) Graça irresistível. “Para os eleitos, a graça é irresistível. Mesmo que pequem, serão salvos; para os não-eleitos, a graça não lhes alcança; mas agem livremente”. 
Um pouco de leitura da Bíblia, confrontando passagens de seu conteúdo nos mostram que a graça de Deus se manifestou a todos os homens e não apenas a um seleto grupo de eleitos, ou predestinados.
 
(5) Perseverança dos salvos. Segundo Calvino, “o Espírito Santo faz com que os eleitos perseverem. Não são eles que têm a decisão de perseverar. Eles não podem perder a salvação. É impossível um eleito se perder”.
Essas são as alegações usadas pelos calvinistas para fundamentar a doutrina da predestinação absoluta.
Strong afirma que os “decretos de Deus podem ser divididos em: relativos à natureza, e aos seres morais. A estes chamamos preordenação, ou predestinação; e destes decretos sobre os seres morais há dois tipos: o decreto da eleição e o da reprovação […]”9 
A visão de Strong é calvinista. Admite que Deus predestina uns para serem salvos, queiram ou não; e outros, para a perdição eterna, queiram ou não. Parece-nos que essa doutrina contraria diversos atributos naturais de Deus, tais como o da justiça, do amor, e da bondade divinos. A Bíblia diz: “Pois o Senhor, vosso Deus, é o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e terrível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita recompensas” (Dt 10.17). “E, abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas” (At 10.34). “Porque, para com Deus, não há acepção de pessoas” (Rm 2.11). 
O Deus que não faz acepção de pessoas também reprova quem o faz: “Meus irmãos, não tenhais a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas” (Tg 2.1). “Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado e sois redargüidos pela lei como transgressores” (Tg 2.9). “E vós, senhores, fazei o mesmo para com eles, deixando as ameaças, sabendo também que o Senhor deles e vosso está no céu e que para com ele não há acepção de pessoas” (Ef 6.9). Assim, se Deus não faz acepção de pessoas, não podemos aceitar que alguns já nasçam predestinados para a salvação, e outros, eleitos, já nasçam predestinados para a perdição.
Strong, mesmo defendendo a predestinação, diz que “Nenhum decreto de Deus reza: “Pecarás”. Porque 1) nenhum decreto é dirigido a você; 2) nenhum decreto sobre você diz: “você fará”; 3) Deus não pode fazer pecar, ou decretar fazê-lo. Ele somente decreta criar, e Ele mesmo age, de tal modo que você queira, de sua livre escolha, cometer pecado. Deus determina sobre os seus atos prever qual será o resultado dos atos livres das suas criaturas e, deste modo, determina os resultados” (grifos meus).
Ora, se Deus “não pode fazer pecar”, mas condena pessoas desde o ventre à condenação, elas terão que pecar, para que se cumpra o decreto condenatório. Do contrário, se não pecarem, como serão condenadas? Por outro lado, se as pessoas “de sua livre escolha”, podem cometer ou não, o pecado, não vemos como harmonizar o livre-arbítrio com a doutrina da predestinação. De fato, os que defendem a predestinação absoluta negam que Deus tenha dado livre-arbítrio ao homem. Simplesmente, os homens se comportariam como se fossem marionetes do destino traçado por Deus. Nos parece que a predestinação absoluta equivale ao fatalismo dos árabes, que dizem “maktub”, “está escrito”. Sua aceitação entra em conflito com os atributos morais de Deus, de bondade, amor e justiça. Por mais que os teólogos defensores dessa doutrina argumentem, buscando embasamento bíblico, jamais poderão convencer que Deus discrimina uns em detrimento de outros, com base no caráter de Deus, revelado nas Escrituras Sagradas.

2.2. ARMINIANISMO - A PREDESTINAÇÃO RELATIVA
Doutrina pregada por Jacobus Arminius (1560-1609). Foi sucessor de Calvino, e concluiu que o teólogo francês se equivocara. Sua doutrina também pode ser resumida em cinco pontos: 

(1) A predestinação de Deus é condicional (e não absoluta). “Deus escolheu baseado em sua presciência. Qualquer pessoa que crê pode ser salva” (Dt 30.19; Jo 5.40; Tg 1.14; 1 Pe 1.2; Ap 3.20). 
Em todos os livros da Bíblia, percebe-se que o relacionamento de Deus com o homem exige condições; se o homem as cumpre, é abençoado; se não as cumpre, é penalizado. Se uns nascessem predestinados para a vida eterna, não adiantaria pregar o evangelho, conforme a Grande Comissão (Mc 16.15,16);

(2) A expiação é universal. “O sacrifício de Jesus foi a benefício de todos os pecadores. Mas só os que crêem nEle serão salvos” (cf. Jo 3.16; 12.32; 17.21; 1 Tm 2.3,4; 1 Jo 2.2); 
Os textos bíblicos referenciados são de uma clareza cristalina, quando se referem à expiação; esta é tão profunda que tem efeito presente e até retroativo (Hb 9.15). Diz Paulo sobre Jesus: “Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus” (Rm 3.25; grifos meus).

(3) Livre-arbítrio. “O pecado passou a todos os homens, mas as pessoas podem crer, arrepender-se e a aceitar a Cristo como Salvador” (Is 55.7; Mt 25.41,46; Mc 9.47,48; Rm 14.10,12; 2 Co 5.10).
Como já foi exposto neste capítuloo livre-arbítrio é condição indispensável para que seja real o fato de o homem ter sido criado conforme a imagem e a semelhança de Deus, pois um ser teleguiado, manipulado por cordões espirituais, não passaria de uma marionete do Criador. 

(4) O pecador pode eficazmente rejeitar a graça de Deus. “Deus deseja salvar o pecador, e tudo provê para que ele alcance a salvação. Mas, sendo ele livre, pode rejeitar os apelos da graça” (Lc 18.23; 19.41,42; Ef 4.30; 1 Ts 5.19).
Se não houver essa condição, não existe livre-arbítrio, característica fundamental do ser criado por Deus, conforme comentário no item (3).

(5) Os crentes em Jesus podem cair da graça. Se o crente, uma vez salvo, não vigiar e orar (Mt 26.41), e não buscar a santificação (Hb 12.14; 1 Pe 1.15), poderá cair da graça e perder-se eternamente, se não tiver oportunidade de reconciliar-se com Deus. Por isso, Jesus disse que quem “perseverar até ao fim será salvo” (Mt 10.22; ver também Lc 21.36; Gl 5.4; Hb 6.6; 10.26,27; 2 Pe 2.20-22). 
A doutrina arminiana nos parece coerente com o plano de Deus para os homens, como seres livres. Podem aceitar, ou podem rejeitar a graça de Deus. Só sendo livres, é que se justifica a semelhança moral do homem com seu Criador. É também, a única interpretação que se coaduna com o Ser de Deus, e seu caráter, revelado na Bíblia Sagrada. Deus dá liberdade ao homem, dentro dos limites estabelecidos em seu plano divino para toda a humanidade. A soberania de Deus impõe os limites. O livre-arbítrio concedido por Deus implica em responsabilidade do homem perante o Criador. Do contrário, Deus seria um tirano. E o homem seria seu títere.10 

3. ELEIÇÃO E PREDESTINAÇÃO - UMA ABORDAGEM COMPREENSIVA
Eleição significa “Ato de eleger; escolha, opção, preferência, predileção”.11 A doutrina calvinista entende que Deus elegeu somente um grupo de pessoas, e predestinou-as para serem salvas. É a visão da eleição e da predestinação absolutas. Os arminianos entendem que existe eleição e predestinação, sim, mas no sentido relativo. Esta visão parece-nos mais consentânea com a maneira pela qual Deus exerce sua soberania, ao mesmo tempo em que assegura a liberdade do homem. 
A predestinação absoluta esbarra em sério conflito doutrinário e moral. Deus não faz acepção de pessoas, e o Deus que não faz acepção de pessoas também reprova quem o faz: “Meus irmãos, não tenhais a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas” (Tg 2.1; grifos meus). “Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado e sois redargüidos pela lei como transgressores” (Tg 2.9; grifos meus); “E vós, senhores, fazei o mesmo para com eles, deixando as ameaças, sabendo também que o Senhor deles e vosso está no céu e que para com ele não há acepção de pessoas” (Ef 6.9; grifos meus). Assim, se Deus não faz acepção de pessoas, não podemos aceitar que alguns já nasçam predestinados para a perdição, e outros, eleitos, já nasçam predestinados para a salvação. Tal ideia contradiz o caráter de Deus, revelado nas Escrituras.

3.3. O SIGNIFICADO DA ELEIÇÃO (gr.eklegoe)
Há diversos e variados pontos de vista sobre o tema da eleição. No entanto, evitando as abordagens que levam às contradições entre a soberania de Deus e a liberdade do homem, entendemos que eleição é a “escolha por Deus daqueles que crêem em Cristo”. Diz a Bíblia: “Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Rm 8.29,30; 9.6-27; 11.5,7,28; Cl 3.12).

Isso nos leva às seguintes conclusões:

(1) Os eleitos, segundo a presciência de Deus, o são na união com Cristo. Deus “nos elegeu nele” (Ef 1.4). Antes de alguém aceitar a Cristo, a eleição não tem qualquer sentido, ou efeito;

(2) Deus nos predestinou para sermos “à imagem de seu Filho”, conhecendo-nos, como eleitos, “dantes”, isto é “antes da fundação do mundo” (Ef 1.4). Essa eleição tem sentido “profético”, só se tornando real, a partir da união com Cristo.

(3) Cristo é o Primeiro (Mt 12.18; 1 Pe 2.4). “Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8.29). Jesus foi o primogênito em tudo. Foi o “primogênito de toda a criação” (Cl 1.15). “E ele é a cabeça do corpo da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência” (Cl 1.18); “o primogênito dos mortos” (Ap 1.5).

(4) “A eleição em Cristo é em primeiro lugar coletiva, i.e., a eleição de um povo (Ef 1.4,5,7,9; 1 Pe 1.1; 2.9). Os eleitos são chamados ‘o seu [Cristo] corpo’ (Ef 1.23; 4.12), ‘minha igreja’ (Mt 16.18), ‘povo adquirido’”12 - eleito ¾ por Deus (1 Pe 2.9; grifo meu). Logo, a eleição é coletiva e abrange o ser humano como indivíduo, somente à medida que este se identifica e se une ao Corpo de Cristo, a Igreja verdadeira (Ef 1.22,23).

(5) O eleito pode perder a salvação. Pode cair da graça, no dizer de Armínio. Precisa perseverar até o fim (Mt 10.22); precisa vigiar e orar (Mt 26.41); precisa buscar a santificação (Hb 12.14; 1 Pe 1.15); ver também Lc 21.36; Gl 5.4; Hb 6.6; 10.26,27; 2 Pe 2.20-22). A salvação só é eterna, se o crente permanecer debaixo da graça de Deus, em comunhão com Jesus.

3.4. O SIGNIFICADO DA PREDESTINAÇÃO (gr. proorizo; lat. praedestinatione) 

Predestinação tem o significado de “decidir de antemão”. Em termos bíblicos e teológicos, a predestinação está relacionada à eleição. “A eleição é a escolha feita por Deus,’em Cristo’, de um povo para si mesmo (a Igreja verdadeira). A predestinação abrange o que acontecerá ao povo de Deus (todos os crentes) genuínos em Cristo”.13Com base na Palavra de Deus, podemos discriminar dez característica dos eleitos em Cristo.

(1) Deus predestina os eleitos a serem: 

(a) chamados (Rm 8.30); 
(b) justificados (Rm 3.24); 8.30); 
(c) glorificados (Rm 8.30); 
(d) conformes à imagem do Filho (Rm 8.29);
(e) santos e irrepreensíveis (Ef 1.4);
(f) adotados como filhos (Ef 1.5);
(g) redimidos (Ef 1.7);
(h) participantes da herança, redenção, e louvor de sua glória (Ef 1.14);
(i) participantes do Espírito Santo (Ef 1.13; Gl 3.14); 
(j) criados em Cristo Jesus para as boas obras (Ef 2.10).

(2) A predestinação, assim como a eleição, refere-se ao corpo coletivo de Cristo (i.e. a verdadeira igreja), e abrange indivíduos somente quanto inclusos neste corpo mediante a fé viva em Jesus Cristo (Ef 1.5,7,13; cf. At 2.38-41; 16.31)”.14
Ninguém, à luz da Bíblia, pode arrogar-se eleito, ou assim se considerar sem, antes, ter aceitado a Cristo como Salvador, livre e conscientemente. Deus não admitiria alguém fazer parte do Corpo de Cristo sem uma decisão pessoal. Diz a Bíblia: “Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente, sereis meus discípulos” (Jo 8.31; grifo meu). O Mestre se referia aos judeus que criam nele. Para se tornarem discípulos de Jesus, isto é, salvos, teriam de “permanecer” na sua Palavra. Vê-se claramente que a salvação, que implica em eleição, não é um direito adquirido com o nascimento. É um “poder” outorgado (Jo 1.12), a quem aceita as condições exigidas na Palavra de Deus.

3.5. PRESCIÊNCIA E PREDESTINAÇÃO
Deus já sabe quem vai ser salvo e quem vai ser perdido. Mas Ele fez os homens à sua imagem e semelhança, o que inclui, certamente, a faculdade de fazer ou deixar de fazer, ou seja, o livre-arbítrio. Chafer (note-se que ele é um teólogo calvinista), afirma que 
Com relação à onisciência de Deus e as ações livres dos homens (ações contingentes, não ordenadas), vê-se que Deus os torna responsáveis pelos seus atos, e tais ações são pré-conhecidas por Ele. Se Deus for ignorante das ações futuras dos livres-agentes, não poderá haver um controle divino seguro do destino humano como garantido em cada pacto incondicional que Deus fez, e como garantido em cada profecia das Escrituras […] A presciência divina não compele; ela meramente sabe qual será a escolha humana15 (grifo meu). 
Com base nesse entendimento, poder-se-ia dizer que não é necessário Deus prever nada, pois todas as coisas acontecem diante dEle como num momento, num “eterno agora”. Diz ainda Strong que a “presciência não é em si mesmo causativa. Não dever ser confundida com a vontade pré-determinante de Deus. As ações livres não ocorrem porque são previstas, mas são previstas porque ocorrem”16 (grifo meu). Esta última citação nos dá uma idéia de como melhor podemos entender o conflito entre a presciência de Deus e a liberdade do homem em agir.
Strong afirma que "O fato de que nada há na condição presente das coisas a partir das quais as ações futuras das criaturas livres necessariamente se seguem por lei natural, não impede Deus de prever tais ações porque seu conhecimento não é mediato, mas imediato. Ele não só conhece antecipadamente os motivos que ocasionarão os atos dos homens, mas diretamente conhece os próprios atos."17 

Num confronto entre as duas posições doutrinárias, a arminiana e a calvinista, ressalta-se o problema da eleição: 
Ela tem sido apresentada de maneira tão extremista que faz parecer que os eleitos serão inevitavelmente salvos, sem levar em conta sua resposta ao evangelho e seu estilo de vida. Por outro lado, os escolhidos para se perderem padecerão eternamente, não obstante qualquer empenho em aproximar-se de Deus mediante a fé em Cristo.18 

Em resposta à pergunta “O que é eleição?”, Thiessen diz que, no seu sentido redentivo, eleição é “o ato soberano de Deus, pela graça, através da qual Ele escolheu em Cristo Jesus, para salvação, todos aqueles que previu que o aceitariam”.19 Sobre presciência, acentua:
Devemos distinguir claramente entre a presciência de Deus e a sua predestinação. Não é certo dizer que Deus previu todas as coisas porque arbitrariamente decidiu fazer com que elas ocorressem. Deus, em sua presciência, vê os eventos futuros praticamente como vemos os passados […] Os que foram escolhidos são aqueles que estavam em Cristo, pela sua presciência, Deus já os viu ali quando fez a escolha […] Ele não determinou quem deveria achar-se ali, mas simplesmente os viu ali em Cristo ao elegê-los […] Em ponto algum a Bíblia ensina que alguns são predestinados à condenação. Isto seria desnecessário, desde que todos são pecadores e estão a caminho da condenação eterna (cf. Ef 2.1-3; 12).20

Diante da controvérsia, Myer Pearlman propõe um equilíbrio na análise do assunto. Ele afirma que:

As respectivas posições fundamentais, tanto do calvinismo, como do arminianismo, são ensinadas nas escrituras. O calvinismo exalta a graça de Deus como a única fonte de salvação ¾ e assim faz a Bíblia; o arminianismo acentua a livre vontade e responsabilidade do homem ¾ e assim o faz a Bíblia. A solução prática consiste em evitar os extremos anti-bíblicos de um e de outro ponto de vista, e em evitar colocar uma idéia em aberto antagonismo com a outra […] dar ênfase demasiada à soberania da graça de Deus na salvação pode conduzir a uma vida descuidada, porque se a pessoa é ensinada a crer que conduta e atitude nada têm a ver com sua salvação, pode tornar-se negligente. Por outra parte, ênfase demasiada sobre a livre vontade e responsabilidade do homem, como reação ao calvinismo, pode trazer as pessoas sob o jugo do legalismo e despojá-las de toda a confiança de sua salvação.21

De fato, o crente fiel não cai da graça de Deus, como dizem os calvinistas, mas “se” perseverar em obediência e santidade (Hb 3.12-14;12.14); o homem é depravado, mas, se aceitar a Cristo, é nova criatura (2 Co 5.17). A “eleição incondicional” só pode ser uma interpretação equivocada, mesmo baseando-se em textos bíblico, pois Deus não faz acepção de pessoas. O problema é que os calvinistas não admitem o livre arbítrio. Mas, sem essa condição, o homem não poderia ser imagem e semelhança de Deus.

Quanto ao arminianos, seus pontos fundamentais são aceitáveis, mas não podem ser levados ao extremo. Não é somente pelo livre-arbítrio ou pela responsabilidade pessoal que alguém pode ser salvo. Entendemos que as duas interpretações podem servir de subsídio para a doutrina da salvação, mas sem as afirmações dogmáticas, levadas ao extremo. Na salvação, tem-se a mão de Deus, por intermédio de Cristo, vindo ao encontro do homem pecador, por seu amor e sua misericórdia. Quando o homem perdido reconhece seus pecados, e sua condição de miserável espiritual, e aceita a mão de Deus em seu favor, é salvo. No entanto, quando o perdido prefere rejeitar a mão de Deus, e opta pela mão do Diabo, está perdido, e assim ficará até à morte. 
Corroborando esse entendimento, vemos o que diz o Senhor, por meio do profeta Ezequiel: “Quando eu também disser ao ímpio: Certamente morrerás; se ele se converter do seu pecado e fizer juízo e justiça, restituindo esse ímpio o penhor, pagando o furtado, andando nos estatutos da vida e não praticando iniqüidade, certamente viverá, não morrerá. De todos os seus pecados com que pecou não se fará memória contra ele; juízo e justiça fez, certamente viverá” (Ez 33.14-16; grifos meus). Aí, nesse texto tão incisivo, vê-se que “o ímpio”, ou seja, o perdido, o depravado, o miserável pecador, quando ouve a advertência de Deus, por meio de sua Palavra, do evangelho de Cristo, na Nova Aliança, e se arrepende, (”e se converter”, passando a andar “nos estatutos da vida”, que é a Palavra de Deus), diz o Senhor: “Certamente viverá”, isto é, será salvo. Não se pode inferir do texto qualquer conotação de que esse “ímpio” seria um “eleito”, ou “predestinado”. É ímpio mesmo! Note-se também que não é Deus quem o converte, por sua “graça irresistível”, mas é ele próprio quem, advertido por Deus, deve “se converter do seu pecado”, e passar a andar “nos estatutos da vida”. Fazendo ele isso “certamente viverá”.

Segundo Horton se a graça de Deus é irresistível, como enfatizou Calvino, 
os incrédulos pereceriam, não por não quererem corresponder, mas por não poderem. A graça de Deus não seria eficaz para eles. Nesse caso, Deus pareceria mais um soberano caprichoso que brinca com seus súditos que um Deus de amor e graça. Sua promessa: “todo aquele que quer” seria uma brincadeira de inigualável crueldade, pois Ele é quem estaria brincando. Mas o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo não brinca conosco22 (grifos meus).

“Entendemos que a interpretação arminiana é a mais consentânea com o caráter de Deus, que é ao mesmo tempo justo, soberano, bom, e que não faz acepção de pessoas”.23

É indiscutível, à luz da Bíblia, a soberania de Deus. Por outro lado, também é indiscutível à luz das Escrituras, que o homem recebeu de Deus o livre-arbítrio, para que seja responsabilizado por seus atos. Ao longo da História, observa-se que a maioria das pessoas não querem encurvar-se ante a soberania de Deus. Muitos vêem Deus como um ser distante, que criou todas as coisas, mas não se importa com suas criaturas. São os deístas. Outros, guiados pela cegueira espiritual, desacreditam na existência de Deus. São os ateístas. Por fim, há os que, em minoria, aceitam as verdades emanadas da Palavra de Deus, e não somente crêem nEle, como o adoram, e o servem “em espírito e em verdade” (Jo 4.24). São os teístas. A crença em Deus, pelos méritos de Jesus Cristo, é o único meio para que o ser humano chegue à eternidade, com a bênção da salvação. Os que o aceitam, são salvos. Os que o rejeitam, estão condenados (Jo 3.18,19). Deus não faz acepção de pessoas. Sua salvação é oferecida a todos (Jo 3.16), mas só é alcançada pelos que crêem em Jesus Cristo e o aceitam como salvador.


Notas

HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática, p.153.BANCROFT, E.H. Teologia Elementar, p. 82.9 STRONG, Augustus H. Teologia Sistemática, p.525.10 “Boneco articulado, de madeira, pano ou outro material, suspenso por fios fixados em uma trave e presos na cabeça, mãos, joelhos e pés, pelos quais o operador o movimenta; fantoche, marionete” (Dicionário Aurélio Séc. XXI).11 Dicionário Aurélio Século XXI.12 STAMPS, Donald. Bíblia de Estudo Pentecostal. p.1808.13 Ibid. p.1809.14 Ibid. p.1809 (com adaptações).15 CHAFER, Lewis Sperry. Teologia Sistemática, p.221.16 STRONG, Augustus H. Teologia Sistemática, p.426.17 Ibid, p. 424.18 Guy P. DUFFIELD & Natanael M. Van Cleave, Fundamentos da teologia, p. 281.19 Ibid. p.281.20 Ibid. p. 282.21 PEARLMAN, Myer. Conhecendo as Doutrinas da Bíblia, p.271.22 HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática, p.366,367.23 LIMA, Elinaldo Renovato de. Apostila sobre Doutrina de Deus, p.


Uma publicação do Revendo Pr. Elinaldo Renovato de Lima.

Pesquisa e edição: Pb. Gilmar Sousa

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